cronicamente online #007: até onde vão os conteúdos de IA em vídeo?
de conteúdos bíblicos a Marisa Maiô: qual o limite pra um conteúdo de IA? até onde vamos conseguir entender o que é verdade ou mentira?
fala aí, cronicamente online! tudo certo com você nessa quarta-feira?
se você caiu aqui por algum link suspeito, relaxa: você tá em casa.
toda semana a gente fala dos assuntos que viralizaram nesse grande pandemônio chamado internet brasileira.
sempre com um olhar voltado pra comportamento, marketing, negócios… mas sem o olhar de consultoria.
se ainda não segue a gente, clica aí embaixo e resolve isso agora:
se já segue, também clica aí (mas com outra intenção):
confesso que essa semana foi difícil decidir sobre o que falar aqui.
muita coisa séria rolando no mundo: discussões sobre guerras, imigração, tragédias, decisões políticas… e tudo isso sendo mostrado “ao vivo” e direto nas nossas timelines.
por aqui, a gente nunca vai ignorar que essas coisas não estão acontecendo. mas também não vamos deixar de cumprir o que essa newsletter se propõe:
ser um respiro no meio desse caos.
um lugar pra pensar internet, comportamento e marcas com leveza, mas sem perder o senso de responsabilidade.
então, entre a autocobrança de ser útil ao mundo (haha), o receio de parecer alienado e a tentativa de achar algum tipo de equilíbrio…
vamos falar de um assunto que veio escalando forte essa semana…
começou com um bando de vídeo aleatório, tomou conta das redes e o assunto bombou tanto, que no domingo à noite estava no Fantástico.
vamos falar de: conteúdos de IA em vídeo.
e prometo: tem dado, tem reflexão, tem meme, tem insight.
e, se tudo der certo, um pouquinho de esperança também (ou não??).
mas antes de explicar o presente, vamos entender o passado (semanas atrás kkkk) pra realmente sentir a evolução:
vocês lembram daquele famoso vídeo de 2023 do Will Smith comendo espaguete, todo distorcido e cheio de glitch, com cara de ter sido feito sem cuidado nenhum?
acredite: esse aí de cima foi o primeiro grande viral de vídeo gerado por IA. ultrapassou o status de meme e mostrou que a tecnologia estava chegando, mesmo que ainda meio ruim.
na época, muita gente pensou: “relaxa, ainda estamos longe de vídeo decente.”
spoiler: não estamos mais.
dois anos depois, a realidade é outra.
de 2023 pra 2024, o mercado de vídeos feitos por IA mais que dobrou, saindo de US$ 0,6 bilhão para mais de US$ 1 .2 bilhão, segundo a Allied Market Research .
a projeção até 2033? quase US$ 9,3 bilhões, com CAGR (taxa anual de crescimento) de 30,7% - tem analista apostando num número ainda mais alto: US$ 15 bilhões até 2030.
feito isso, chega a bomba da semana: o Google lançou o VEO 3, a engine de vídeo com áudio nativo. agora dá pra criar clipes com voz e trilha, não só imagens.

pra sentir o impacto: na última semana, o CEO do Google, Sundar Pichai, revelou em uma entrevista que os tokens gerados por vídeo da plataforma saltaram de 9,7 trilhões por mês pra 480 trilhões - tudo isso em menos de 30 dias.
(e se você tá pensando “mas o que é token?”, calma: pensa no token como a moedinha do fliperama da inteligência artificial. cada palavra, gesto ou frame que a IA cria gasta uma. quanto mais você joga, mais o Google ganha.)
ou seja: bilhões de tokens que se transformam em bilhões de dólares na conta da big tech.
e o fliperama tá sempre lotado.

mas ainda (foco no AINDA, tá?) a plataforma não é tão acessível assim: o plano Ultra custa R$ 900/mês e permite gerar vídeos de até 8 segundos com limite de tokens. pra criar coisas mais complexas e longas, pode ser bem mais que esse valor aí.
e foi a partir do lançamento do VEO3 que começamos a ver os conteúdos de IA bombarem online.
aqui na minha timeline começou com os conteúdos bíblicos. Jesus, Moisés, apóstolos - todo mundo usando gíria, falando com linguagem de TikTok, gravando vertical e formato selfie. os áudios variam desde “deixa eu te contar o que rolou no deserto” até “por que isso importa pra sua vida hoje”.
tem criador de conteúdo bíblico que já bateu mais de 1 milhão de seguidores no TikTok, com mais de 26 milhões de views. o Noé virtual faz piada sobre como era o cheiro dos animais na arca. um dos exemplos é o Vlog Bíblico.

e aí veio ela.
enquanto o céu se abria nos vídeos bíblicos, no subúrbio digital do Brasil, nascia Marisa Maiô, a primeira apresentadora de programa de auditório 100% criada por inteligência artificial. com vinheta própria, bordões ensaiados e convidados que não existem.

o figurino é cafona (mas chama atenção), tem auditório, enquadramento de câmera ainda meio tremido e aquele roteiro sem sentido que só quem viveu os anos 90 já viu. Marisa é o tipo de personagem que parece ter saído direto do SBT, junto com o Gugu.
por trás da criação está o Raony Phillips, roteirista e diretor independente, que há mais de 10 anos cria conteúdo usando The Sims como ferramenta. ele é o nome por trás de Girls In The House, uma das primeiras webséries brasileiras criadas dentro de um jogo (The Sims), que levou anos pra construir fandom, reconhecimento e impacto.
mas um vídeo da Marisa já mudou tudo. em um único fim de semana, ela tomou conta da internet.
Marisa é apresentadora, entrevistadora, humorista, tem repórter de rua e promotora de dinâmicas bizarras. tudo ao mesmo tempo.
mas tem um detalhe: ela não existe.
é um amontoado de prompts, vozes sintetizadas, vídeos criados no VEO3 e carisma digital. e ainda assim, se tornou mais conversa do que muito influenciador que tenta há anos.
o impacto foi rápido e barulhento:
já são mais de 100 milhões de views somando TikTok, X e Instagram
trending topic no Twitter no fim de semana
matéria no Fantástico, com direito a conversa sobre produção de conteúdo e criatividade
programa da Band recriando a personagem, que gerou debates acalorados sobre IA, autoria e uso comercial
e, claro: a primeira publi fechada em menos de 5 dias de viralização
o contrato foi com a Magalu, que há anos tenta se estabelecer no mundo de avatares e campanhas com personagens digitais.

ah, e pra quem gosta de bastidor de mercado:
fontes próximas (alô, insiders do LinkedIn) disseram que a publi com a Marisa custava R$ 45 mil na semana passada. essa semana? já atualizaram o email e pedem R$ 100 mil por um reels.
e é bom lembrar: tudo isso aconteceu em menos de uma semana.
uma personagem inventada, criada com IA, que virou pauta nacional, influencer, garota-propaganda e talvez o maior case global de viralização por vídeos de IA.
e outros criadores tem replicado essa história RÁPIDO. o Gui (roteirista da Tatá Werneck) colocou a dele pra jogo, por exemplo:

e pras marcas? nadaaaaa!!!! hahaha.
mentira.
mas é bom pensar bem antes de sair criando personagem de IA só porque é “trend”.
eu (disse EU!!!) ainda acho que não é hora de sair por aí fazendo campanha com IA só porque dá pra fazer.
a discussão sobre direitos autorais, valorização do trabalho criativo e uso ético dessas ferramentas ainda está no meio do furacão. e não adianta tentar pular essa parte.
marcas precisam se perguntar: isso conecta com meu consumidor? isso é relevante? isso respeita a criação de verdade?
porque se for só IA por IA, a chance de parecer forçado ou oportunista é enorme (e, honestamente? é o que a gente mais vê por aí)
e, sim, o assunto vai muito além de vídeo engraçado.
essas mesmas ferramentas que estão gerando apresentadoras e novelas ilusórias, também podem ser usadas pra criar notícias falsas, manipular discursos, simular falas de figuras públicas e amplificar narrativas perigosas com aparência profissional.
em 2024, mais de 70% dos vídeos deepfake detectados envolviam política ou finanças, segundo o relatório da Sumsub.
a BFI (British Film Institute) chamou o avanço da IA no audiovisual de “ameaça real à integridade narrativa e ao emprego criativo” - o que não é pouca coisa.
então, sim: do mesmo jeito que minha sobrinha de 4 anos (alô, Lulu!) vai conseguir criar sua própria série no futuro e assistir na TV da sala, também estamos abrindo portas complicadas que podem ir além do entretenimento.
mas, no meio disso tudo, tem uma coisa boa que a gente já pode cravar:
essas ferramentas empoderam quem já cria.
o creator, o roteirista, o editor de celular, a galera que faz meme com recurso mínimo… esses sim tão vivendo o auge da possibilidade.
porque content creators nunca foram tão content creators como agora.
a técnica deixou de ser barreira. não precisa saber filmar, editar, operar câmera, segurar cabo, fazer voz de locutor.
precisa ter ideia. precisa ter roteiro. precisa saber contar história.
precisa ter coragem de ser meio cafona, meio meme, meio genial e às vezes tudo isso ao mesmo tempo.
e se você ainda acha que isso é “coisa do futuro”… desculpa, mas o futuro já tá no seu feed.
com apresentadores que não existem, dublagens que nunca foram gravadas e episódios que foram renderizados no tempo de um story.
a criatividade virou API. e o palco, agora, pode ser todo seu. (mas use com moderação)
ah, quer aprender como usar o VEO3? se liga nesse vídeo do YouTube aqui.
tem curiosidade sobre o mercado e quer aprofundar nas outras ferramentas? tem o Railway, o Sora (da OpenAI) e outros que podem ser achados aqui também.
bora com fé, com cuidado e atenção! mas vamo que vamo!
até quarta que vem!
zé
Ótima reflexão! Eu como profissional da área audiovisual fico preocupada com tamanha normalização da IA
Amei e não consigo mais superar Marisa Maiô! Falando de marcas, meu conteúdo de AI por favorito foi a campanha de lançamento da coleção da GOLF le FLEUR em collab com a LV, estrelando o Tyler, absolute cinema 🤌🏻